Uma das pautas do programa CBN Brasília desta quinta-feira (24/07), da Rádio CBN, tratou do aumento no número de casos de violência contra os idosos. Em entrevista, a Juíza Monize Marques, associada e coordenadora da Central Judicial da Pessoa Idosa do TJDFT, relatou perfis e causas deste acontecimento na capital federal.
Dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania mostram que em 2025 o DF registrou mais de duas mil denúncias de violências contra a pessoa idosa. O registro de média é de dez denúncias por dia, considerando apenas os canais oficiais do ministério. “Infelizmente, a violência contra a pessoa idosa acontece principalmente no contexto doméstico. Por ser num contexto em que a participação do poder público só acontece se convocada, existe um grande número de subnotificação”, alerta a Magistrada.
“Os números são camuflados pela normalização da violência, normalmente porque os grandes ofensores são os filhos das vítimas e porque a própria vítima teme fazer alguma denúncia e de alguma forma comprometer a relação familiar", aponta. De 2022 a 2024, houve um aumento de 68% nas denúncias, com o total de pedidos de ajuda subindo de 7.693 para quase 13 mil.
Entre os perfis agressores, o destaque está entre os próprios filhos das vítimas. “No Distrito Federal, esse número é de aproximadamente 60%, sendo reproduzido nas outras capitais. No contexto local, a gente percebe que é do filho homem à mãe, ou seja, uma mulher numa dupla condição de vulnerabilidade. Esse filho mora normalmente com a vítima e em grande parte dos casos existe um tipo de drogadição”, indica.
A Juíza Monize Marques ainda revelou uma pesquisa da Central Judicial da Pessoa Idosa com o mapeamento das ocorrências e suas respectivas causas. “As três regiões administrativas que contemplam maior número de violência representam as três faixas sociais da população: Brasília, Taguatinga e Ceilândia, dentro dessa classificação, segundo a Codeplan (Companhia de Planejamento do Distrito Federal), como as cidades mais violentas em relação à pessoa idosa. O que muda é o tipo da violência, mais ligada à questão de abusos patrimoniais no Plano Piloto e negligência, abandono e violência psicológica nas cidades mais distantes do centro”, explica.
O trabalho do TJDFT, na atenção às vítimas e a especialização no atendimento das mesmas, foi levado a conhecimento na entrevista. “O Tribunal de Justiça tem sido sensível a esse aumento na violência, inclusive mapeando a possibilidade da criação de uma vara de violência doméstica especializada nesta área, iniciativa tomada já por outros tribunais. A gente percebe que, assim como no contexto da violência contra a mulher e contra a criança, é necessário haver um atendimento especializado, sobretudo multidisciplinar”, destaca.
A Magistrada finalizou marcando a necessidade de denúncia dos casos nos mais diversos canais disponíveis. “O que não pode é saber, ter o conhecimento de que tem uma pessoa 60+ sofrendo algum tipo de violência e a gente normalizar, dizendo “é assim mesmo”, “não é da minha casa”. É importante que a sociedade se comprometa com o processo de sensibilização e ressignificação do envelhecimento”, convoca.